É graduada em Matemática na modalidade Informática e em Música pela UFRJ, com título de bacharel e mestre em Harpa. Participou com publicação num dos primeiros grupos de interdisciplinariedade envolvendo Computação e Música no Brasil, a Sociedade Brasileira de Computação e Música (1997 e 1998). Na área musical foi uma das harpistas a difundir a música brasileira, no Brasil e no exterior através do projeto da Orquestra Brasileira de Harpas, onde teve importante contribuição desde a sua formação em 1996. Atualmente é doutoranda na Linha de Poéticas da Criação Musical no PPGM da UFRJ com enfoque no grupo de música e matemática MUSMAT, no projeto de pesquisa Desenvolvimento de Sistemas Composicionais, sob a orientação do Prof. Doutor Liduino Pitombeira.
O objetivo desse trabalho é explorar no contexto musical um universo artificial que pode ser percebido a partir de padrões matemáticos observados na escrita do conto As Cidades Invisíveis (CALVINO, 2017). A geografia imaginária engendrada é compreendida pela repetição de elementos que se relacionam e se combinam ao longo da narrativa. Assim, a questão dessa pesquisa tem seu foco nas implicações técnico-composicionais decorrentes do uso de padrões extraídos de um universo imaginário e da transformação deles em recursos do processo criativo, utilizando como referencial teórico a Teoria dos Sistemas Composicionais (PITOMBEIRA, 2020). Nela, uma operação que se denomina transdução é responsável por permitir que o compositor plasme sua impressão do universo em objetos genéricos e relações musicais que constituem um sistema composicional. Se o universo for um universo natural, esse sistema terá como base as leis naturais, especialmente as de caráter cognitivo, como a inércia, a gravidade e o magnetismo (LARSON, 2012) e podemos usá-las em outro contexto, assim como fez Xenakis observando o comportamento de fluídos descrito em modelos da física (XENAKIS, 1992). Nesse trabalho, o método de aplicação da teoria compreendeu a especificação de um sistema composicional original com a criação de regras observadas na construção literária. O uso dele no planejamento composicional resultou numa experiência criativa com alcance ampliado, pela diversidade de parâmetros que puderam ser explorados, propiciando a criação de uma obra para flauta, viola e harpa.
Referências
BERTALANFFY, Ludwig von. Teoria Geral dos Sistemas. Tradução: Francisco M. Guimarães. Petrópolis: Vozes, 2008.
CALVINO, Italo. As Cidades Invisíveis. Tradução: Diogo Mainard, São Paulo: Companhia das Letras, 2017.
CALVINO, Italo. Porque ler os clássicos. São Paulo: Companhia das Letras, 1993.
DeGROOT, Morris; SCHERVISH, Mark. Probability and statistics. 4a. Edição. Hoboken, N.J.: Pearson Education, Inc., 2019.
FUX, J. Literatura e matemática, Jorge Luis Borges, Georges Perec e o OuLiPo. Petrópolis: KBR, 2013.
KLIR, George. Facets of Systems Science. New York: Plenum, 1991.
LARSON, Steve. Musical forces: motion, metaphor, and meaning in music. Bloomington, IN: Indiana University Press, 2012.
OULIPO. La littérature potentielle (Créations, Re-créations, récréations). Paris: Gallimard, 1973.
PITOMBEIRA, Liduino. Modelagem sistêmica como metodologia pré-composicional. Anais do XXVII Congresso da ANPPOM. CAMPINAS: ÚNICAMP, 2017, p.1-10.
PITOMBEIRA, Liduino. Compositionality as Creative Identity Building. In Revista da Associação Brasileira de Teoria e Análise Musical 2019, v. 4, n. 2, p. 113–133 – Journal of the Brazilian Society for Music Theory and Analysis @ TeMA 2019 – ISSN 2525–554.
PITOMBEIRA, Liduino. Compositional Systems: Overview and Applications. MusMat – Brazilian Journal of Music and Mathematics. v.4, n.1, 2020, p. 39–62.
VELOSO, P.; Santos, C.; Azeredo, P.; Furtado, A. Estrutura de Dados. Editora Campus: Rio de Janeiro, 1986.
XENAKIS, Iannis. Formalized Music: Thought and Mathematics in Composition. Series: Harmonologia Series, No 6. New York: Pendragon Press, 1992.