Ao abordar os processos cognitivos envolvidos no entendimento da forma musical, o artigo procura enfatizar que em seus primórdios a musicologia brasileira, através dos escritos de Mário de Andrade, abordou a questão direta e indiretamente, ainda na primeira metade do século XX, sem, contudo, ter recebido o devido reconhecimento. Se a forma musical não é mais sintaticamente formulada pelo compositor contemporâneo, ao menos nos termos clássico-românticos, isto exige dos performers da música instrumental a capacidade de formar interpretando. Este performer contemporâneo habitua-se, cada vez mais, a objetivar consciente, discursiva, e conceitualmente, recursos de entendimento pré-conceitual de sua experiência da música, que proporcionarão a concretização de seus projetos interpretativos. Donde o desafio enfrentado por Mário de Andrade ao formular sua estética musical pareceu ser o de incluir a presença do indizível, do inexplicável, do imaginativo na semântica musical. Mário de Andrade revela-se extremamente sensível às questões que tangem o campo da cognição musical; seus escritos enfatizam a participação do fisiológico, do movimento corporal e dos aspectos metafóricos no entendimento e na produção crítica em música. Ele se mostra mais interessado nos processos de síntese do que nos de análise, preocupado em se desfazer do conhecimento técnico para se entregar ao ato criativo.
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