Focalizamos a música brasileira profissional de gênero instrumental e abordamos o papel crucial da leitura à primeira vista para o seu desenvolvimento. Argumentamos que, para além do conceito comum de leitura à primeira vista — relacionado à estrita decifração de sinais sobre o pentagrama —, outras práxis de leitura fundaram, ao longo dos dois últimos séculos, o que se passou a reconhecer como música brasileira. Neste sentido, destacamos que o formato notacional internacionalmente conhecido como lead sheet (padrão notacional empregado no contexto em questão) possibilitou não só a disponibilização de elementos musicais essenciais para a singularização de obra e autoria, como também suscitou a consolidação da coleção de imagens musicais que constituíram o gênero em questão. Desse modo, a interação das simulações imaginadas de padrões genéricos — a ação da memória incorporada — com a leitura da lead sheet originou obras e definiu um repertório. Considerando pressupostos da cognição musical incorporada, fundamentos estilístico-musicais e a análise de gravações e transcrições, especulamos atribuir papel central à leitura à primeira vista para a constituição do campo estilístico abordado — especialmente representada pelo choro. Trata-se de uma produção musical essencialmente originada pela e na performance, abrangendo improvisação frásica e harmônica, modos de articulação e sonoridade.
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